Trouxe na bagagem além do doce de
Tamarindo, a urgência tão peculiar das mulheres da minha geração. Somos
mulheres que sempre tem algo a mais para fazer: um relatório, um jantar, uma
reunião, uma visita, um compromisso de toda e qualquer natureza. Sim, porque o
simples ato de marcar um café entra na agenda do dia e precisa ser cumprido com
a mesma seriedade com que comandamos nossas casas, nossos funcionários, filhos
maridos (as) e assim por diante.
O domingo amanheceu mais cedo,
meu filho me pareceu maior e mais cheio de necessidades. É como se minha
realidade tivesse s tornado mais dura. Como se eu fosse o coelho da fabula
Alice no País das Maravilhas, com o relógio entre os dedos e atrasada, muito
atrasada, corresse em busca da transformação das coisas. Uma sensação de pressa
me arrebata a alma.
Estive em Fortaleza entre os dias
21 e 23 de novembro para a capacitação do projeto “Ouvir a Mulher: Um Novo Significado a Participação” uma parceria
entre o DOGES - Departamento de Ouvidoria Geral do Sistema
Único de Saúde/Ministério da Saúde e a UBM -
União Brasileira de Mulheres.
Pela própria urgência do gênero me
deparado com algo além da institucionalidade ou do bom uso do recurso publico. Sou
convidada a me sentar a mesa e ficar cara a cara com a responsabilidade, de não
só fazer um projeto dar certo, mas sim entregar um resultado transformador pra
vida de quem ouve e principalmente de quem é ouvido.
O ato de ouvir transcende o ato de escutar. Ouvir é
compreender o que o outro diz, é um ato que requer paciência, humildade e
principalmente inteireza da nulidade dos nossos sentidos, para que possamos
abraçar palavras, depois as frases até que o pensamento do outro entre nós
pelas vias auditivas e não sejam contaminados pelo nossas certezas e percepções do mundo.
Num mundo tão cheio de ruídos,
onde cada um está centrado nos seus próprios sons, permitir que o outro deixe
de ser um eco do nosso próprio reflexo e passe a ser um som livre e
independente, com vontades e desejos, com necessidades e urgência, de
peculiaridades e sensações, é sobretudo um ato coragem de despir-se de si e
abrir espaço para o outro entrar e somar conosco em busca de algo muito maior,
sermos uma só voz.
Num rompante quixotesco ouvir, nesse momento, é pode ser um ato de amor, nada do tipo
Romeu e Julieta e nada contra também, mas um amor que desprende e dispõe do
exíguo tempo das nossas vidas para poder dar voz e acesso a mulheres que nem
sanem que isso é possível.
T.