quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Depois de Fortaleza

Trouxe na bagagem além do doce de Tamarindo, a urgência tão peculiar das mulheres da minha geração. Somos mulheres que sempre tem algo a mais para fazer: um relatório, um jantar, uma reunião, uma visita, um compromisso de toda e qualquer natureza. Sim, porque o simples ato de marcar um café entra na agenda do dia e precisa ser cumprido com a mesma seriedade com que comandamos nossas casas, nossos funcionários, filhos maridos (as) e assim por diante.

O domingo amanheceu mais cedo, meu filho me pareceu maior e mais cheio de necessidades. É como se minha realidade tivesse s tornado mais dura. Como se eu fosse o coelho da fabula Alice no País das Maravilhas, com o relógio entre os dedos e atrasada, muito atrasada, corresse em busca da transformação das coisas. Uma sensação de pressa me arrebata a alma.

Estive em Fortaleza entre os dias 21 e 23 de novembro para a capacitação do projeto “Ouvir a Mulher: Um Novo Significado a Participação” uma parceria entre o  DOGES -  Departamento de Ouvidoria Geral do Sistema Único de Saúde/Ministério da Saúde e a UBM -  União Brasileira de Mulheres.

Pela própria urgência do gênero me deparado com algo além da institucionalidade ou do bom uso do recurso publico. Sou convidada a me sentar a mesa e ficar cara a cara com a responsabilidade, de não só fazer um projeto dar certo, mas sim entregar um resultado transformador pra vida de quem ouve e principalmente de quem é ouvido.

O ato de ouvir transcende o ato de escutar. Ouvir é compreender o que o outro diz, é um ato que requer paciência, humildade e principalmente inteireza da nulidade dos nossos sentidos, para que possamos abraçar palavras, depois as frases até que o pensamento do outro entre nós pelas vias auditivas e não sejam contaminados pelo nossas certezas e  percepções do mundo.

Num mundo tão cheio de ruídos, onde cada um está centrado nos seus próprios sons, permitir que o outro deixe de ser um eco do nosso próprio reflexo e passe a ser um som livre e independente, com vontades e desejos, com necessidades e urgência, de peculiaridades e sensações, é sobretudo um ato coragem de despir-se de si e abrir espaço para o outro entrar e somar conosco em busca de algo muito maior, sermos uma só voz.

Num rompante quixotesco ouvir, nesse momento, é pode ser um ato de amor, nada do tipo Romeu e Julieta e nada contra também, mas um amor que desprende e dispõe do exíguo tempo das nossas vidas para poder dar voz e acesso a mulheres que nem sanem que isso é possível.

T.