sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Como uma luva


Eles se amam. Todo mundo sabe mas ninguém acredita. Não conseguem ficar juntos. Simples. Complexo. Quase impossivel. Ele continua vivendo sua vidinha idealizada e ela continua idealizando sua vidinha. Alguns dizem que isso jamais daria certo. Outros dizem que foram feitos um para o outro. Eles preferem não dizer nada. Preferem meias palavras e milhares de coisas não ditas. Ela quer atitudes, ele quer ela. Todas as noites ela pensa nele, e todas as manhãs ele pensa nela. E assim vão vivendo até quando a vontade de estar com o outro for maior do que os outros. Enquanto o mundo vive lá fora, dentro de cada um tem um pedaço do outro. E mesmo sorrindo por ai, cada um sabe a falta que o outro faz. 
(Tati Bernardi)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Chove e não é em Bagdá

Choveu muito hoje por aqui. Toda uma represa guardada a muitas semanas desaguou. Caiu pesada sobre ouvidos amorosos e compreensivos. Soluços entrecortaram relâmpagos e trovoadas, se misturando a sensação única de solidão. Violenta, capaz de desenraizar uma mangueira secular, seguiu arrancando do mais fundo da alma lama, lodo e restos, como se com essa fúria levasse ou lavasse as lembranças, dores e as saudades. As roupas resistiram a sua força, talvez porque elas nada tenham a ver com o cerne da tempestade. Lá pelas tantas sem céu ou sol foi se acalmando e atrás de si deixou um terreno sem nada, que pairava entre pronto e cansado. Sem expectativas, sonhos ou perspectivas caiu a noite. Insistentemente ela continuou com breves intervalos de intensidade, pingando.
Agora espero que o tempo seque, além das roupas, todo entulho que ficou amontoado naquele cantinho, pra quem sabe, colocar fogo em tudo e depois soprar as cinzas pra bem longe ou aos pés do mar.
T.

Chove Sobre Bagda - Adalberto Monteiro
http://www.fmauriciograbois.org.br/portal/noticia.php?id_sessao=53&id_noticia=3082

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Momento inusitado

Faz sol. Bem verão. Tão longe de casa me encontro, estranhamente percorro ruas e subo escadas, ouço conversas e vivo a intensidade de viver a vida como ela se apresenta.
Avassaladoramente os dias me mastigam, e meu organismo me diz sobre as Benções de Manassés, não sem dor, e da maravilha que é poder olhar um novo dia com olhos de gazela.
Observei a cena distante das emoções que me tomam por dentro.Ela trouxe um pacote de jujuba e refrigerante, ele agradeceu e quase a beijou. Todas sentadas a mesa. Quem vê de longe, nada mais normal do que qualquer comercial de margarina .Outros se juntam a inusitada cena. Elas distraídas por sua fome saboreiam a refeição. Impossível supor o que os olhos, hoje verdes, podem estar vendo ou se o vestido florido percebe as nuances entre o objetivo e o subjetivo ou ainda se o pequeno rabo de cavalo vai se preparar para uma citação bíblica. Permanecer agora. Ter sido ontem. Continuar pra sempre. Ares vitoriosos sopram pelas frestas do quintal, cada uma em sua particularidade exibe um troféu particular.O que realmente importa?
Nota 10 a esse discreto autor que tece de forma simples e casual esses encontros, que envolve nossas vidas num emaranhado de situações tão inexplicáveis quento sua existência. Faltou a cereja do bolo, difícil saber se a ausência fora sentida, a audiência explodiria.
Um copo vazio de sorvete foi o que sobrou, dessas sobras, coisas que nunca saberemos.

"Raspas e restos/Me interessam/Pequenas porções de ilusão/Mentiras sinceras me interessam/Me interessam..." Cazuza.
T.