sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Meu filho brinca de boneca.

E tem mais, ele lá do jeito dele, dobra roupa, coloca a toalha no varal de chão depois do banho e guarda os brinquedos depois usa-los. Quando me descuido num ninja desses que criança dá, lava a cueca no chuveiro. confesso normalmente não deixo, afinal ta faltando água no mundo. Ele também tira o prato da mesa e coloca dentro da pia. Você deve se perguntar: Um adolescente certamente? Não meu bem, ele tem cinco anos.

Tudo isso porque hoje alguém me disse: Mudo meu nome pra Josefina se Davi pega numa boneca?

Pode procurar o cartório meu amigo. Porque ele brinca e se diverte. Té e Bê as filhas da vizinha que o digam. Eles dividem as tarefas da casa e quando se cansam jogam bola, andam de skate e se embolam pela areia da construção. E, diga-se de passagem, isso não é uma questão de gênero, opção sexual, transexualidade ou qualquer variação dessa gama de teses e vivências  que dizem respeito à construção da imagem e identidade de uma pessoa. Por hora eles são crianças meu amigo, apenas e tão somente crianças.

Fui grosseira em responder que a maldade e principalmente o preconceito estão nos olhos de quem vê. Que hoje os rapazes que queimam índio na rua ou amarram outros rapazes no poste ou ainda espancam homossexuais/ transexuais na rua, são os mesmos meninos que ontem fizeram dos braços a continuidade do controle remoto, que não sabem a diferença entre o sofá e a mesa da cozinha ou onde ficam as gavetas. Que homens não batem em mulheres só porque são boçais, mais principalmente porque tiveram uma educação machista.

A sociedade enxerga o homem negro de maneira bastante distorcida do ponto de vista da construção da sua identidade emocional e sexual. Aos homens negros é dada a obrigação do maior pênis da galera e consequentemente o melhor desempenho na cama, o pegador. Infelizmente a maioria deles se encontra nessa pecha e segue afirmando sua autoestima nesse  pilar social enraizado no subconsciente de uma sociedade que trás a na veia a herança escravocrata. Trazendo pra si enganos, solidão, desilusões e outros corações em desalinho. Tudo isso somado a violência da polícia, a falta de oportunidades e a dificuldade de se enxergar, límpido e transparente, pelos próprios olhos, sem a nódoa dos olhos do opressor.

Um dia ele me disse que queria ser menina. Eu me assustei e perguntei por que dessa vontade, ele me contou que um dia ele caiu na escola e à professora soprou o lugar da batida dizendo  que não era nada e no dia que uma das meninas caiu, a professora a pegou no colo, beijou e ficou com ela no colo até que ela parasse de chorar.

Que educação é essa que já na infância, dita quem pode e quem não pode ser cuidado? Que sociedade é essa que oferece a meninos as pedras e a meninas as flores? Que porra de mundo é esse que me diz todo dia que meu filho só vai ser homem se ele coçar o saco e cuspir no chão?

Crianças precisam ser respeitadas, amadas e acolhidas na sua pueril, frágil e delicada essência infantil e isto esta para além das nossas expectativas para elas ou daquilo que consideramos politicamente correto, leia-se cis-gênero-hetero-normativo. Essa complexa tarefa de equacionar no dia a dia Amor e Limite é que traduz a difícil arte de educar, será essa atitude que ira fortalecer sua identidade e realçar as melhores facetas da sua personalidade, definindo  de forma tácita seu caráter.

Meu filho é um menino negro, meigo e educado, que se orgulha disso. Ele insiste ajudar a mim e a qualquer outra pessoa que ele ache que precisa de uma mãozinha. Ele chama o mendigo que mora lá na rua pelo nome: Oi Zé! Quando saio correndo com ele, na pressa das nossas manhãs pra cumprir nossos horários, já me atrasei porque ele foi dividir o pão com um vira lata com cara de faminto. Ele não tem medo de escuro, gosta de historias antes de dormir e é a criança mais feliz do mundo, quando passamos a noite vendo filmes embolados nas cobertas esparramadas pelo chão da sala.

Ele é negro e acha isso “massa”. Estamos tentando deixar o cabelo crescer para trançar. Não fosse pegar piolho na escola, já teria rolado e ia ficar lindo. Ele joga capoeira. Gosta de rap e da batida da Black Music. A periferia tem sido um lugar de gentes de todas as cores, trejeitos e identidades, onde ele pode se reconhecer e vivenciar as diferenças como parte do seu cotidiano.

Desde que as circunstancias me levaram a cria-lo sozinha, me esforço para que essa educação seja antes de tudo inclusiva, que possa torna-lo um homem consciente de si em primeiro lugar, o que implica ser orgulhoso de sua raiz “in África” e ainda que ele seja capaz de se sobrepor  ao machismo ou ao pensamento estruturante de uma sociedade opressora, a ponto de se sensibilizar e engrossar o coro que luta e defende que somos livres para fazermos as escolhas que quisermos e que cor, raça e sexo não podem ser elementos paralisantes para alcançar o céu.

Se as bonecas contribuírem para isso, “voalá”!


T.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Amanheceu...

 


Pra alguns a segunda feira acordou com aquele gosto de caqui quando amarra na boca, amargo... 

Como tudo na vida as eleições tiveram seu fim. Não foi a coragem que venceu o medo ou o amor que venceu o ódio ou qualquer coisa que o valha. Foi o processo democrático que usa o voto como instrumento de deliberação maior, que levou às urnas 105.542.272 milhões de pessoas a escolherem seu governante.

No amargo inflamado do depois, quem deixou de ganhar ainda destilava o veneno, de quem se esqueceu, que numa disputa eleitoral só um ganha, assim não fosse viveríamos numa monarquia.
Já vi algumas eleições e do que me lembro, essa foi a pior de todas elas em todos os sentidos: morais, éticos, financeiros, programáticos...

Dos 105 milhões de votos, 51,6% deles foram dados a atual administração, contra 48,4% da oposição. Apertado. Sabe aquele gol que a gente tem a nítida impressão de que a trave andou? Então, foi essa bola que encaçapou não só a elite, mas toda uma parte da população que se permitiu ser convencida pela  mídia sem critério, a respeito de tudo aquilo que governo deixou de fazer.

Tivemos uma vitória histórica do ponto de vista da batalha em manter conquistas, direitos, crescimento econômico e principalmente a garantia de alguns em continuar tendo o básico: água, luz e trabalho. Levando em consideração a quantidade de gente boa e gente progressista que faleceu ou desencarnou ou morreu mesmo, passo a crer piamente no que diz a bíblia em Efésio 6:12Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.”

Nessa eleição a caixa de pandora das pessoas simplesmente abriu, algumas correram pra fechar e fingiram que nada aconteceu, enquanto outras permitiram que sua selva particular transbordasse, conclusão, foi a eleição da liberdade total e absoluta de expressão, de todas as expressões das mais toscas as mais politicamente corretas.

Foi a eleição de chamar homossexual de “viado”, negro de preto, pobre de burro, nordestinos ignorantes e ricos de “coxinha”. Nunca antes a Justiça Divina foi clamada com tanta ênfase, nunca se viu tanta manifestação em nome de Deus ou da sua pretensa vontade. Laços de amizade foram desfeitos e composições espúrias foram aceitas com uma normalidade pueril. Em nome de Zeus ou de Odin, como diz o ditado: “teve gente que matou e morreu”.

Vídeos, virais, charges, declarações, entrevistas, piadas, montagens, a internet bombou, se verdade ou não, definitivamente não vem ao caso, importante era curtir e compartilhar infinitamente todas as informações. A cobertura jornalística em alguns momentos ficou defasada, a quantidade de informações por piscadas nesses, mais ou menos, 120 dias de campanha foi absurda. O que era agora, antes de terminar a matéria já não era mais. Como filtrar tanta coisa?

Não sei. Sei o que vi. O que eu ouvi e como as pessoas reagiram e definitivamente, eu não gostei.

Fato é: vencemos sim, mas os compromissos assumidos, o tamanho da base aliada, a realidade da câmara e do senado, não nos permite achar que 51,6% é com a variação da pesquisa porque não é, números não mentem e a sua interpretação literal, sem os arroubos emocionais das primeiras horas é salutar para efetuar as mudanças de que almeja um país. Traduzindo, não temos margem de manobra para errar, se confundir ou permitir que a sanha de poder de quem permaneceu impune e consequentemente acha que essa vitória pode validar a permanência de qualquer comportamento corrupto ou corruptível.

No detalhe cabe a cada um de nós, usar os instrumentos da democracia a nosso favor e na legitimidade do voto de cada um, inclusive de quem saiu perdendo, fazendo sua parte. Denunciar se for preciso. Ir às ruas pra reivindicar o cumprimento das promessas. Voltar às ruas pra exibir as conquistas. Tudo isso com responsabilidade e respeito as individualidades, as diferenças, as igualdades e idiossincrasias tão inerentes a nos simples e ignorantes mortais.

Amanheceu. Não existe noite eterna. Ainda que alguns se consumam nesse sentimento. Amanheceu. O sol e a poeira de hoje já deixaram suas partículas no ontem. Não há muros que nos separem e nem paredes que nos afastem. Nesse solo em que se plantando tudo dá, o feijão de lá é uma variação do feijão de cá, o aipim daqui é a macacheira de acolá. Não  há sentido em separar. Sentido há na esperança de se vestir com esse novo raiar.

Makutb.

T.



sexta-feira, 24 de outubro de 2014

E por falar em corrupção...

Quem nunca pediu pra passar na frente na fila no mercado por estar apenas com uma mercadoria nas mãos? 

Vai dizer que você nunca pediu emprestado o sobrinho ou filho do vizinho pra usar a fila preferencial no banco

Me diga se você não ofereceu um "café" quando foi parado em alta velocidade ou ligeiramente embriagado na blitz de um fim de semana qualquer? Negue se você nunca nunca disse que queria ser parlamentar por conta do "auxilio paletó"? 

Me conte, em segredo se você nunca cometeu uma infração do tipo condenável moralmente? Atire a primeira pedra aquele que não tiver pecado, a exceção de quem disse a frase, todo resto, creia, não poderia falar em corrupção, não fosse a falsa ilusão de moral que todos temos a respeito de si mesmo. Eu roubava balas nas Lojas Americanas do Iguatemi em Campinas quando era adolescente.

A corrupção do PT nesses 12 anos de governo foram tema recorrente nesses meses de campanha, fato pessoas se deixaram corromper pelo poder e consequentemente pelo dinheiro que vem junto com ele, isso é incontestável, entretanto façamos uma pequena retrospectiva ao passado ou uma pequena conta. Contra os 12 anos de administração petista, temos 488 anos dos antepassados do PSDB travestidos de portugueses, senhores de engenho, latifundiários e industriais; mais tarde 20 anos sob o regime da ditadura militar; pós falecimento de Tancredo Neves 20 anos especificamente da direita na administração do país, sem contar que ela esteve na direção do Senado e da Câmara dos Deputados ininterruptamente, a exceção dos 04 anos em quando Aldo Rebelo assumiu a presidência da mesma. 

Os escândalos do PT, os desvios, os Genuínnos e os Delúbios, contra quem? Considerando que a grande mídia é administrada por empresas e fundações que controlam mais de um meio de comunicação e são controladoras das principais redes de comunicação televisiva do país, elas exercem relações politicas, sociais e econômicas decorrentes dessa concentração, ou seja, isso faz com que elas trabalhem para manter sua hegemonia e consequentemente a proteção daqueles que garantem essa posição.

Nesses anos da administração "direitosa" do Brasil pouco ou nunca se viram prisões ou denuncias que foram em frente, isso não quer dizer que elas não tenham existido, elas não foram publicizadas, a voz grave do Bonner no Jornal Nacional, não falou em quase 20 anos da corrupção do Sarney no Maranhão que transformou um estado num feudo, nem falou do PROER programa que injetou 1% do PIB no sistema financeiro, jamais ele emprestou seu charme pra falar da compra da emenda de reeleição; a perpetuação no Planalto se legalizou com FHC e pra não ficar massante vou finalizar com o apagão de 2001, que transferiu o prejuízo da falta de investimentos na área aos consumidores no aumento das tarifas e rapidinho o projeto de flexibilização da CLT que não teve força pra passar no senado, conclusão ninguém ouviu ou muito pouca gente soube e quem soube ficou bem caladinho.

Nada do que eu disse até agora é para justificar a corrupção ou me tornar conivente com ela, é apenas pra lembrar as pessoas que toda moeda tem dois lados e em se tratando da maneira que o exercício politico é tratado no Brasil nem gregos ou troianos, nem petistas ou pesdebisdas são paladinos da moral e dos bons costumes.

Eu não sou do PT. Eu sou militante do PCdoB e fico a vontade em dizer que o projeto de governo do meu partido é diferente do projeto de governo do PT, mas no patamar de democracia que o país se encontra, um governo de coalizão, ou seja, um governo amplo é o que melhor acomoda os anseios de um futuro desenvolvimentista, em que o foco seja o país e aqueles que tiveram sua cidadania aviltada nesses anos de azul, amarelo e branco, diferente do que vivenciamos entre o descobrimento e Lula, bom definitivamente eu to mais pra Cuba do que pra Nova York.

Isso posto, optar por vivenciar a administração da "coisa" publica é faze-la com responsabilidade, coerência, de forma ampla e equânime, nesses 12 anos de administração do PT é impossível não reconhecer que as classes menos privilegiadas tiveram um ganho real em todas as nuances da vida em sociedade.

Sou paulista, mas vivo no Nordeste há pelo menos 8 anos, especificamente em Salvador. Sou mulher, negra, moro na periferia e posso atestar a dimensão dessa realidade por que eu vejo não só o crescimento da renda das pessoas, mas da sua auto estima, da sua percepção de si, do que elas esperam do futuro. No interior do estado necessidades básicas, água, luz e moradia, foram supridas e isso aconteceu em todo país. As taxas de emprego cresceram, o ingresso a universidade foi universalizado, os direitos trabalhistas foram ampliados e principalmente foram dados ou restabelecidos a quem nem sabia que os tinha. Eu vi um país sair sair da miséria e só não viu quem não prestou atenção ou não quis.

Gente vamos pensar pra falar. Zeca Baleiro na sua declaração de voto foi fantástico quando diz que não compactua com a corrupção e que vai ser um incansável critico de Dilma se ela for reeleita, porque isso é parte da democracia pra fazer valer o seu voto.

Eu vou votar na Dilma porque eu vejo todos os dias as oportunidades que esse governo ofereceu a uma parte grande, mais muito grande da população nacional, então você que é branco, hetero, cisgênero, classe média tem toda razão de apoiar um sistema de administração que privilegiou a classe a qual você faz parte, a mesma que desembarcou por aqui na nau de Pedro Alvares Cabral quando esta aportou. Hoje você divide o banco da federal com o neto da empregada, não pode se "bacanear" porque tem o último modelo tecnológico do mercado e nem voar pelo céu azul anil como se ele pertencesse a você e aos seus pares.

Defender os pares faz parte do processo de disputa das idéias, não vou convencer você a votar em Dilma, mas em que pese benefícios e malefícios ou a margem de erro para mais ou para menos, que você use a balança do bom senso e não penda pra lado algum, sem antes se esvaziar dos preconceitos, da retorica, da ausência de memória histórica e principalmente da ignorância do ditado popular "farinha pouca meu pirão primeiro."

T.















sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A saga da fantasia.




Tem dias que simplesmente me atropelam. A manhã foi tranquila, guardada as devidas proporções de uma casa que tem criança..

Antes da xícara de café habitual, já na secretaria, fui interpelada por uma pergunta simples: E ai Te qual a programação de domingo? Domingo? Respondi eu. Sim Teresa o munda esta se mobilizando para o dia da criança. Com a minha habitual clareza respondi: Nenhuma, tudo vai estar cheio, lotado, um inferno de gente em todos os lugares, pra semana a gente vai ao cinema ou ao teatro ou a praia, domingo nem pensar! 

Imediatamente lembrei que o dia da criança aqui de casa, ainda faltava a fantasia e o presente. A fantasia, bem pensei eu, já tinha corrido shopping e os armários atrás de uma ideia que agradasse a ele e a mim. O presente nem sequer pensei, ou melhor, ele quer um patins, eu não quero pernas ou braços engessados, ou seja, ainda precisamos entrar num acordo. Quando? Ainda não sabemos...

Hoje foi o dia da "Saga da Fantasia." Corri a Av. Sete, Rua do Paraíso, Le Biscuit e a única loja que achei com preço honesto, como diria minha irmã, não aceitava cartão de débito e o banco do Brasil mais próximo, fechado. Um pensamento brota com uma naturalidade espantosa: Maternidade é uma "coisa" que da trabalho. 

Diminui o ritmo da caminhada, já estava atrasada pra aula, a fantasia que eu queria não ia rolar, então fui caminhando entre as barracas de fruta, de bolsas e ambulantes. Adoro essa confusão do centro da cidade: Olha a uva R$ 1,00... Me da vontade de lavar tudo, a uva, a penca de banana, as 7 maças, os pacotinhos de batata e os nuguets de validade duvidosa. 

Me restava respirar e vasculhar pelo mundo de dentro de mim o famoso Plano B. Nessa altura minhas penas me levaram para as Lojas Americanas e lá me esperando reluzente estava uma fantasia de esqueleto, eu olhei pra ela com um muxoxo, depois consultei as horas 18:55, que mais senão pegar um chocolate, se dirigir ao caixa e finalmente chegar na aula?. 

Voltei pra casa sem as frutas ou os nuguets, mas com a fantasia nas mãos. Lá meio envergonhada falei: Olha "B" mamãe trouxe sua fantasia. Lá vem ele, gaiato todo vida, pegou o esqueleto na mão e respondeu cantarolando pela casa: Eu tenho uma fantasia de esqueleto, minha mãe me deu uma fantasia de esqueleto... Aquela felicidade tão inocente, aquela leveza de pra quem tudo é simples, transformaram "A Saga da Fantasia" em mais um capitulo da incrível aventura da maternidade.
T

segunda-feira, 14 de julho de 2014

No quintal do mundo

Já cantava Jorge Bem Jor “... domingo eu vou ao maracanã, ver o time que sou fã...” deu Alemanha, a sobriedade, o planejamento e a organização do pais mais gélido da Europa levou a taça, num jogo duro, difícil que exigiu mais que futebol, exigiu equilíbrio e sangue frio. 

A argentina foi bem, mas quero crer que eles queriam tanto ganhar no Maracanã pra sacanear com a gente, que acabaram tropeçando na famosa rivalidade que nos une.

Com licença poética: E agora José? A copa acabou. O Brasil não ganhou. Em compensação, contrariando Blackblocs e oposição, como o governo disse: aeroportos, estádios, rede hoteleira e serviços de modo geral funcionaram muito bem.

E o tal do futebol? Não veio ou esqueceu ir jogar ou ficou desgostoso em se ver misturado ao cimento dos estádios, no querosene dos protestos ou em cada criança não atendida pelo SUS, discussões que nada tinham a ver com a bola, com o clima de “Vamos juntos, pra frente Brasil, salve a seleção...”. Ele ficou lá sozinho, sonhando com a glória de 70, com a sorte de 92, ficou sentado à beira do caminho...

O fato é tivemos jogadores bons pra caralho, mas que não tinham liga, não conseguiram manter o toque de bola e o entrosamento dentro de campo. Que com toda experiência do Felipão e da comissão técnica, não conseguiram construir um time. Longe de termos um elenco ruim, mas por não termos entendido que só talento não basta, é preciso muito mais do que isso, é preciso uma mudança radical de conceito juntamente a uma nova percepção do futebol.

Na perspectiva do esporte, o futebol se mostrou mais profissional do que nunca, com uma característica marcante, foi uma copa que evidenciou talentos individuais, uma competição de indivíduos que representaram seus países e não o contrário, a exceção de países como Gana, Costa Rica, Chile, e Camarões. A atuação de jogadores como Messi, Neymar, Cristiano Ronaldo, Ramis Rodrigues, Gerard Piqué, Schweinsteiger eram tidas como responsáveis por vitorias ou derrotas, um show de talentos em detrimento ao esforço da construção coletiva que deveria representar um esporte que se faz com vinte e dois jogadores.

Economicamente a grana rolou em larga escala, em centavos ou em milhões lucraram de ambulantes a mega corporações. A rede hoteleira, gastronômica, de serviços e entreterimentos fez girar a favor de si a roda do capital. O país foi mobilizado de forma impar para receber não só as seleções, mais principalmente os turistas que aqui aportaram.

A circunferência do mundo se encontrou por aqui. Acarajé para holandeses, puchero para chilenos e australianos, paçoca (farofa de carne de sol desfiada e farinha de mandioca) para gregos e japoneses, bom bocado de pinhão para argelinos e russos, deliciosos pães de queijo para ingleses e colombianos, tacacá, pato no tucupi e jambu para enlouquecer croatas e americanos, muita rapadura e tapioca para mexicanos e costa riquenhos. Como dizem por aqui foram tantas opções que quase “não deu pra quem quis.”.

Efetivamente o contra ataque do povo brasileiro se sobrepôs as vaias da classe média e a própria participação da seleção, nos comportamos como um time marcando um gol de placa. Fizemos bonito e sem falsa modéstia fomos um exemplo de hospitalidade e organização, pra finalizar contemos Mariana: “Você me abre seus braços e a gente faz um país.”.

T.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Paremos todos!


Putas, taxistas, lixeiros, travestis, alunos e professores, policia e toda bandidagem, funcionários públicos, agentes penitenciários, cozinheiras ou chefes como preferirem, donas de casa e vagabundos S.A., pretos, brancos, azuis ou amarelos, chilenos, bolivianos e todos os vira latas que se prezem, se apresentem, decreto paralisação oficial.


Seguido na onda das mobilizações anti copa outros movimentos ou pseudos movimentos se juntam aos anti Neymares e Solaris e pressionam o estado ou seus patrões em busca daquilo que acreditam sejam seus direitos. Até devem ser, mas há que se ter uma forma menos drástica de chegar a eles.

Talvez porque em se tratando da Copa ela vai acontecer com hospitais ou sem eles, principalmente porque bem a moda brasileira tudo acaba em pizza nesse caso em gols e em um mês de pouco trabalho e muita comemoração, mas o texto não é sobre isso, os legados da copa deixo para os entendidos, entretanto é impossível não fazer um paralelo entre a quantidade de greves que tem ocupado as manchetes e o maior evento esportivo, depois das olimpíadas e seu acontecimento no Brasil.

Há os que são contra, então porque não aproveitar e usar o momento para insuflar aquilo que estamos vivendo: o caos, para desacreditar o pais, os movimentos sociais e toda a organização democrática construída.

O estado da Bahia, mais especificamente Salvador tem vivido dias quentes, mesmo fora do verão. Primeiro a greve da policia militar e as implicações políticas que a envolviam. Depois a quase greve da policia civil e agora a paralisação dos rodoviários e ontem no jornal da manhã a greve dos professores em São Paulo.

A Constituição, nos da algumas garantias, entre saúde, educação e moradia também esta o direito a greve, artigo 9º. Concordo com ele, acho legitima a luta por manutenção de garantias ou aumento de direitos, contudo em alguns momentos sou obrigada a questionar pra onde tem nos levado essa inversão do uso democrático dos instrumentos que a própria democracia nos oferece.

Primeiro o sindicato aceita a proposta dos patrões, algumas horas depois os rodoviários paulatinamente vão parando, parando, parando e a frota de dois mil rodoviários parou, as 20:30 ou muito antes disso não havia um ônibus na rua, mas haviam pessoas de todos os tipos, idades e profissões que não tinham como voltar pra casa. Algumas andaram quilômetros depois de um dia inteiro de trabalho, as mais sortudas dormiram na casa de amigos e parentes e houve ainda quem dormiu na estação da Lapa.

Hoje pela manhã é fácil saber o que aconteceu e a perspectiva de resolução esta longe das nossas vistas, já que a previsão de uma nova votação é no dissídio que será votado ou discutido, não entendi bem, na quinta feira. São quatro dias que a cidade para, que as pessoas estão impossibilitadas de exercer seu direito de ir e vir ou o exercem com muitas dificuldades.

Essa paralisação ou a forma como ela foi conduzida, mostra o desmonte ou a truculência ou ainda a inversão do uso do instrumento dos trabalhadores que é o sindicato, representação legitima de uma determinada categoria. Isso que estamos assistindo é um agrupamento corrupto e sem compromisso, vide o assassinato de Colombiano e Catarina.

Usar a população ou explorar o caos urbano pra pressionar seja o governo seja o patrão no meu entendimento é um ato criminoso, além de um puta desrespeito com a população.
Pra não perder o costume e passar essa greve pelas questões de gênero, lembro-me das mulheres de modo geral e em especial as mulheres da periferia, que nesses momentos tem suas dificuldades aumentadas, porque vão desde voltar pra casa até achar quem fique com seus filhos.

Minha indignação não veio à tona porque fiquei horas no ponto de ônibus ou porque não tive quem ficasse com meu filho, porque graças aos Céus moro a 20 minutos do meu trabalho e ainda que a escola integral  que ele estuda tenha parado, tenho quem me de suporte nas chamadas urgências da vida, entretanto eu pago impostos e para além disso eu acredito na democracia e em alguma ordem existente na terra em que as coisas ou os caminhos devem ter e tomar pra manter ou garantir um mundo minimamente equilibrado ou organizado, porque justo ele ta longe de ser.

T.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Muito Além da Cor



“Há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração...” Era um menino que gostava de bola, de pipa, de geladinho, de correr pelo quintal e que num momento de abastança ganhou uma bicicleta e fez do mesmo quintal um mundo a ser desbravado sob duas rodas, contudo, aprendeu cedo que o portão era o instrumento limitador da sua liberdade.

Cresceu o menino. Hoje um homem que atravessou o portão e se deparou com instrumentos muito mais cruéis pra limitar ou anular sua liberdade, do que aquele simples portão. Hoje vestido de sobriedade, pouco mostra os dentes, já que na cultura popular: preto que muito ri ta de onda é malandro ou coisa do gênero. Do quintal a ser desbravado, ficou a ilusão de liberdade.

Quis se dedicar aos estudos, mas trabalhar se fez imperioso. Foi ajudante de pedreiro, entregador da venda do seu Manoel, limpou para brisa no farol, fez carreto na feira, entre outros biscates. Nos poucos intervalos que achava lia umas revistas velhas, pra não se desacostumar das letras. Sim porque com muito esforço terminou 2º grau, com números era bom, aprendera novo fazer o troco quando nas idas e vindas à venda, pra sua velha e negra mãe.

Passou longe do crime ou porque tinha medo de morrer ou porque queria postergar a morte. Desde cedo ouvira falar que na linha de frente da violência estavam os meninos pretos, então pelo sim pelo não era melhor andar dentro das linhas estabelecidas. Bem via os outros meninos desfilando de Nike, Onbongo, algumas vezes considerava a possibilidade, mas imediatamente se dava conta que confirmar as estatísticas não era uma boa ideia.

Virou doutor, mas continua sendo parado pela policia e evita chegar em casa depois das 23 horas.

Quisera eu essa historieta fosse uma ficção, ledo engano ela narra a vida de Joaquins, Joses, Albertos e tantos meninos que vivem nas grandes capitais onde a policia entra sem avisar ou nos rincões do  país onde a fome também inibe a possibilidade de sonhar.

Como já se cantava nos anos noventa “era só mais um Silva que a estrela não brilha...” na verdade hoje em dia, essa estrela não precisa brilhar, ela só precisa permanecer viva e não no céu, mais em terra firme, onde seus sonhos possam ser concretizados ou pelo menos sonhados.

Nos dois últimos meses os casos de racismo e violência contra mulheres e jovens negros, tomaram conta não só das delegacias, mas das capas de revistas e dos programas de TV: a revista Trip pergunta onde esteve a beleza da mulher negra, a TPM de como é difícil ser mulher negra no Brasil, a Placar fala do assassinato envolvendo o goleiro Bruno e sua namorada Elisa Samudio, as redes sociais bombaram sobre o caso Claudia, (aquela mulher que teve o corpo arrastado por um carro de policia), Regina Casé em seu último programa expõe toda dor de seu elenco, após um de seus bailarinos ter sido brutalmente assassinado e a cereja do bolo, Jô Soares distribui bananas na abertura do seu programa em alusão a atitude do jogador Daniel Alves, vitima de racismo em campo.Para tudo! Eu vou descer pra não ficar aqui mais muitas laudas, falando de quantos morreram e quantos ainda vão morrer enquanto a gente banaliza a violência transformando-a em espetáculo.

A pergunta que me suscita a alma, que inquieta minha ignorância é o que mais precisa acontecer pra gente acordar e perceber que vivemos números de morte maiores do que na II Guerra Mundial, que a guerrilha esta instaurada e que o conjunto da sociedade esta em risco. A vida perdeu o sentido e o valor, ou melhor, a vida daqueles que são denominados por não brancos, ou seja, quando o recorte das mortes recai sobre gênero e raça, os dados são inacreditáveis.

A sociedade brasileira tem trabalhado com a lógica fabril do capitalismo em relação às vidas que são ceifadas por conta do racismo e da violência. Claro que a ausência do poder publico, traduzido em lazer, esporte, educação, saúde e ações afirmativas também é responsável pela situação de calamidade que o Brasil vive em relação ao aumento desenfreado da violência, mas também é preciso levar em consideração que essa discussão não esta na agenda do estado enquanto elemento norteador do seu crescimento, nem na pauta das discussões sociais enquanto elemento que compõe uma serie de outros assuntos prioritários de reivindicações.

Então eu pergunto: Aonde falaremos sobre isso? Nos velórios. Nas missas de 7º Dia. Nas passeatas de protesto. Com a fé característica do povo brasileiro, de que dias melhores virão, como diria minha mãe.
Faz parte, mas eu particularmente preferiria debater esse assunto em âmbito nacional, nas esferas federal, estadual e municipal, com ministério da justiça e secretarias de segurança publica, com a SEPIR e as secretarias de promoção da igualdade, com os conselhos de juventude, com SPM e as secretarias da mulher, com o movimento negro, com o movimento de mulheres, com o movimento sindical, com os partidos de esquerda e porque não de direita e principalmente com eles.

Saúde, educação, economia, juros, desenvolvimento sustentável são pautas do  programa de crescimento de um pais que descobriu a pouco tempo o exercício da democracia. Uma nação que até ontem andava com as pernas do BIRD, que passou por um processo de pseudo democracia racial que deixou marcas profundas e indeléveis na construção da identidade da nossa sociedade, um país que passou por 50 anos de ditadura.

Meu lado benevolente entende as dificuldades de realizar transformações sociais tais, que pudessem mudar profunda e radicalmente a raiz do pensamento pequeno burguês latifundiário que dirige a consciência coletiva desse país, mas de acordo com um estudo do IPEA que relaciona violência a cor, condição social e escolaridade “pelo menos 36.735 brasileiros de entre 12 e 18 anos serão assassinados até 2016, em sua maioria por arma de fogo, em caso de se manter o atual ritmo de violência contra os jovens. Trata-se do maior nível desde que o índice começou a ser medido em 2005, quando a taxa era de 2,75 adolescentes assassinados por cada mil.” E esses dados não tem haver só com ações afirmativas ou com a reformulação da educação no Brasil.

Ta na hora, ou melhor, já passou da hora de transformar a contemplação daquilo que não nos afeta diretamente em ação concreta e dizermos não ao governo, as estatísticas e a nós mesmos a essa situação de barbárie.
Eu faço parte da estatística, mulher, negra, da periferia, que se defende ou sobrevive ao que a vida tem imposto, mas eu tenho um menino, um moleque, um menino preto dentro de casa, que brinca descalço no quintal, como tantos outros.

Também por isso eu grito a necessidade de que ele se torne um Homem Negro, eu choro a dor de outras mães que viram seus meninos, tão pretos quanto meu, não mais brincarem nem sonharem muitos menos se tornarem Homens Negros, porque a sociedade em que eles estão inseridos normalizaram as condições em que eles são expostos diariamente, simplesmente por serem são oriundos de um pensamento coletivo consciente ou não que transpôs a senzala para a favela.

Minha inquietação é saber quando esse assunto será colocado na pauta ou agenda prioritária da sociedade e do poder publico, não só pra que meu menino possa concretizar seus sonhos, mas para a sociedade reencontrar o sentido principal da existência, aquele que para além da cor das pessoas.
“Cada negro que for, mais um negro virá, para lutar com sangue ou não...”
T.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Depois de Fortaleza

Trouxe na bagagem além do doce de Tamarindo, a urgência tão peculiar das mulheres da minha geração. Somos mulheres que sempre tem algo a mais para fazer: um relatório, um jantar, uma reunião, uma visita, um compromisso de toda e qualquer natureza. Sim, porque o simples ato de marcar um café entra na agenda do dia e precisa ser cumprido com a mesma seriedade com que comandamos nossas casas, nossos funcionários, filhos maridos (as) e assim por diante.

O domingo amanheceu mais cedo, meu filho me pareceu maior e mais cheio de necessidades. É como se minha realidade tivesse s tornado mais dura. Como se eu fosse o coelho da fabula Alice no País das Maravilhas, com o relógio entre os dedos e atrasada, muito atrasada, corresse em busca da transformação das coisas. Uma sensação de pressa me arrebata a alma.

Estive em Fortaleza entre os dias 21 e 23 de novembro para a capacitação do projeto “Ouvir a Mulher: Um Novo Significado a Participação” uma parceria entre o  DOGES -  Departamento de Ouvidoria Geral do Sistema Único de Saúde/Ministério da Saúde e a UBM -  União Brasileira de Mulheres.

Pela própria urgência do gênero me deparado com algo além da institucionalidade ou do bom uso do recurso publico. Sou convidada a me sentar a mesa e ficar cara a cara com a responsabilidade, de não só fazer um projeto dar certo, mas sim entregar um resultado transformador pra vida de quem ouve e principalmente de quem é ouvido.

O ato de ouvir transcende o ato de escutar. Ouvir é compreender o que o outro diz, é um ato que requer paciência, humildade e principalmente inteireza da nulidade dos nossos sentidos, para que possamos abraçar palavras, depois as frases até que o pensamento do outro entre nós pelas vias auditivas e não sejam contaminados pelo nossas certezas e  percepções do mundo.

Num mundo tão cheio de ruídos, onde cada um está centrado nos seus próprios sons, permitir que o outro deixe de ser um eco do nosso próprio reflexo e passe a ser um som livre e independente, com vontades e desejos, com necessidades e urgência, de peculiaridades e sensações, é sobretudo um ato coragem de despir-se de si e abrir espaço para o outro entrar e somar conosco em busca de algo muito maior, sermos uma só voz.

Num rompante quixotesco ouvir, nesse momento, é pode ser um ato de amor, nada do tipo Romeu e Julieta e nada contra também, mas um amor que desprende e dispõe do exíguo tempo das nossas vidas para poder dar voz e acesso a mulheres que nem sanem que isso é possível.

T.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Transgredir Pra Ser Feliz


            Novelas nem sempre são enlatados “incomíveis”, elas tem seus equívocos, mas conseguem levantar temas de difícil discussão na sociedade.
          No capitulo de ontem, a moça gorda e virgem, foi humilhada pela cunhada cadeirante. Quem levou a melhor? Pela descrição da cena, arriscaria dizer que foi a que estava de pé, mas não, foi a que estava sentada, por quê?  
           Porque a mocinha que estava de pé era gorda, o que a torna mais frágil e susceptível aos impropérios da cunhada malvada, que nada mais é do que o reflexo de uma sociedade preconceituosa regida pala ditadura do esteticamente perfeito. Essa mesma moça poderia ser negra, lésbica, anã, nordestina, pois foi uma típica cena de preconceito.
            Engraçado, cadeirantes também não o sofrem? Bom, a bola da vez é a gordinha, então vamos a ela.
           No fim a moça gorda colocou a cunhada pra fora numa atitude altiva e vencedora. Porta fechada, vemos a cena clássica da mulher sentada no chão a frente do espelho, chorando a cântaros a dor da humilhação sofrida.
            Tudo isso porque o “gatinho comedor” se apaixonou por ela e a pediu em casamento. Fiquei me perguntado quando vou cortar meus pulsos, por que não sou menos gorda do que ela.
            Essa cena, a principio boba, me fez pensar como é difícil viver fora dos padrões, ser diferente, fazer opções que saem do quadradinho da vida social.
            É preciso coragem para estar fora dos padrões. Viver "a dor e a delicia de ser quem somos", com a maturidade de quem se aceita e assim aceita suas limitação e não se permite paralisar por elas e ainda viver sem culpas, isso é coisa pra poucos.
            Tenho descoberto pessoas que transgrediram a tal ponto de não se permitir mais a dor dos olhares avessos e também não permitir que o mundo as fizesse olhar para si com acusações fundamentadas em papeis sociais, pessoas que são LIVRES E PLENAMENTE FELIZES exatamente porque transgrediram as leis, as convenções e principalmente as outras pessoas.
            Eu to na batalha para fazer parte desse time. Tive que fazer escolhas dolorosas em detrimento de manter certa sobriedade para muito além do meu coração. Vivo procurando fazer as coisas bem feitas, com alguma dor e na mesma proporção agradecida por conseguir me esquadrinhar de tal forma que posso me desnudar e assim procurar caminhos menos complexos.   
            Minha irmã diz que devemos fazer escolhas que sejamos capazes de viver com elas, mas é difícil não fugir das situações de conforto, mesmo que elas não nos permitam voar com liberdade. É como se fossemos colocando ao nosso redor, cerquinhas que nos colocam a salvo não dos outros, mas de nós mesmos.
            Acho meu filho um exemplo ótimo. Ele é bicho livre, independente, feliz porque pode andar e correr na rua. Sem experiências fantásticas ou morangos silvestres, comendo feijão com farinha e tomando tubaina ele é feliz, simples assim.
            A vida é muito curta pra gente perder tempo. Pequenas coisas podem ser coisas muito grandes e fazer toda diferença.
            Particularmente não tenho a balança como inimiga. Eu não tenho balança.
T.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

A Impermanência do permanente caos


Os brinquedos junto aos processos, os desenhos de colorir e a caixa de lápis de cor em frente ao computador denunciam presença diferente no expediente inóspito do labor cotidiano, ainda que seja de onde vem o ganha pão, pra ele o lugar é um parque de diversão, as cadeias giratórias viram logo um carrinho ou um avião e os elásticos de processos são a faixa perfeita para caracterizar o ninja.
O dia começou cedo e foi bem cheio. Reflito a caminho de casa sobre os acontecimentos idos. A memória me remete a palestra do dia anterior, sobre a velocidade dos tempos, a dinâmica da historia, transformação da sociedade e a impermanência da vida.
Fomos a uma sessão de terapia infantil. Tudo muito lúdico e colorido. Confesso alguma dificuldade em entender os conflitos ou os problemas existenciais de crianças de 0 a 7 anos, principalmente porque acredito que os filhos acabam sendo o reflexo da nossas frustrações, da nossa ansiedade, daquela tristeza que carregamos nos olhos, mesmo quando o abraço mais carinhoso nos envolve o corpo. 
Pra ele foi à continuação do parque de diversão do período da manhã. Pra mim é desconcertante, mas é preciso entender as lacunas que não consigo preencher ou saber se fui eu quem as abriu em coração tão frágil. Outras crianças, outras mães, outros problemas que eles me fazem pensar: se a vida é impermanente porque estamos ali?
Tudo haverá de passar, isso é tão certo quanto o tempo é imprevisível. Como viver a incerteza temporal? Se considerarmos a impermanência da vida e a minha própria natureza, que precisa entender pra viver plenamente, mais fácil seria enlouquecer junto com o mundo. Ta aí, talvez seja uma solução.
Fico vendo a velocidade dos carros pelo vidro do ônibus, enquanto ele dorme tão tranquilamente. É um contraste e tanto, dentro do caos em que transita a vida urbana em qualquer hora do dia ou da noite, ele simplesmente dorme.
Contrastando com a palestra de ontem, tenho a sensação que minha vida gira em torno do permanente. Nas relações que vamos estabelecendo um com o outro a cada dia, nas coisas que vamos aprendendo juntos: eu a paciência em ouvir todas as histórias e ele em me ver atrasada todas as manhãs. Permanente são o compromisso e responsabilidade que a maternidade impõe a quem pariu.
Eu e ele. Permanentemente juntos. A companhia de todas as horas, no mercado, na praia, na novela, nas refeições, nas dificuldades cotidianas...
Hoje uma amiga falou que está ficando velha pra esse mundo de coisas tão absurdas. Eu concordo com ela, mas enquanto eu também envelheço, ele cresce exposto nesse mesmo mundo de coisas a cada dia, mais e mais absurdas, com o agravante que é impossível não deixa-lo crescer ou tomar contato com essa realidade.
Da impermanência do permanente caos, fica a necessidade de estar permanentemente ligada às pequenas coisas, como o cultivar o amor, regar a cumplicidade, afinar a confiança e podar os limites da condescendência, para simplesmente sobrevivermos.
Poder colher flores e frutos de um relacionamento sólido e saudável, coisa tão rara no cotidiano que não nos permite ser, nem estar inteiros de verdade, é coisa pra poucos e corajosos, que contrariando impermanência da vida permanecem fies ao mel e ao fel  daqueles que amam.

T.

                                                                                              

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O Perigo do Silêncio.



O que é mesmo que norteia nosso senso moral e nossos valores?
Será que violência contra mulher, só é considerada violência de fato, quando chega o camburão ou a subjetividade dos pequenos atos e gestos do cotidiano também o são?
Do que tenho visto e aprendido, toda forma de opressão é uma violência e PRECISA SER COMBATIDA.
Raul Seixas já dizia: “Quando acabar o maluco sou eu.”
Eu pergunto: Se falar  a vadia sou eu?
Tenho uma amiga que diz: Para a maioria dos homens, mulheres solteiras, seja por separação ou por opção, são vistas como “mulheres sem dono”, por isso disponível, “qui nem tumate de feira”. Eu completo, com todo verbo que me é peculiar: Expostas a boçalidade de quem está acostumado a dispor de si em prol do staus quo.
Sinto-me aviltada e ao tempo  oprimida por uma sociedade machista e preconceituosa, quando passo por uma situação constrangedora e me pego refletindo se devo mesmo esclarecer o mal entendido,  e olha que acabei de concluir um curso em Gênero e Raça pelo Neim/UFBA, além de ter alguns anos acompanhando o movimento feminista, seja pela UBM seja pelo movimento social como um todo.
Sinto-me como aquela mulher que apanha do marido e ao se olhar no espelho pergunta-se:
- O que vou dizer no meu trabalho? O que vão dizer se fizer uma queixa, afinal ele é o pai dos meus filhos? O que minha família ai dizer?
E lá vai ela se convencendo a caprichar na base e no pó. Ensaiando uma desculpa, um discurso, um olhar sem eira nem beira que dispense quaisquer comentários. Ela se cala preparando o corpo, o espírito e o coração para mais uma surra.
NÃO. NÃO. NÃO. NÃO. NÃO. NÃO. NÃO. NÃO. NÃO. NÃO. NÃO. NÃO. NÃO. NÃO. NÃO.
O silencio perpetua a violência, a voz conta ela tem de se levantar ou acompanhada dos estilhaços da louca ou da sirene da policia ou da denuncia anônima pelos serviços oferecidos pelo poder publico.
Um inocente bilhete debaixo da porta, nem sempre é tão inocente assim....

“Quando eu soltar a minha voz/ Por favor entenda/ Que palavra por palavra/ Eis aqui uma pessoa se entregando/ Coração na boca/ Peito aberto/ Vou sangrando/ São as lutas dessa nossa vida/ Que eu estou cantando...” Gonzaguinha.
T.