sexta-feira, 20 de junho de 2008


Tantos são os acontecimentos que pouco é o tempo de me dedicar as letras, engraçado, apesar do prazer que isso me dá, são poucos os momentos que paro para escrever, mesmo cartas que curto escrever, curto mesmo. De acontecimentos, em acontecimentos, chegou o São João a grande febre do Noredeste, Salvador hoje, tá igual a Sampa em dia de feriado, vazia, lembra as cidades do velho oeste, toda poeira. O povo sumiu pros interiores da vida, Amargosa, Ipíau, Lençois, Eunapolis... Da-lhe licor de Jenipapo e forró. Só ouço gente falando:
_ Bom São João.
São João, julho tá aí, + um ano que to aqui. Uma vitória. Golpe de sorte. Perseverança....
A vida é um lugar engraçado, ela tem me levado a tantos lugares, a tantas gentes, a tantas escolhas... Não posso reclamar não, apesar dos tropeços, ganhei mais que perdi, amei mais que me desiludi, Vivi, Vivo, Viva ...
Os fatos vão de casamento a passagem de avião em promoção, passando pela consolidação do emprego e terminando num jantar em casa de amigos na véspera de São João.
Daqui da minha janela olho o céu, vejo verdes e prédios ao fundo, a depender dos hormônios, admiro mais ou menos. No final do dia ao cair da tarde, ele, o céu, fica naquele tom alaranjado que tinta alguma consegue imitar e cai a noite num breu brilhante e profundo que engole a gente de admiração e agradecimento.
Eu agradeço. A vida. A Deus. Ao universo. Sem velas ou mandigas. Simples assim, Obrigada.

"... olha pro ceu meu amor
veja como ele esta lindo.

olha praquele balão multicor
que no céu vai subindo"

T.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Quero começar sem ser piegas, contudo a frase... Foi com alegria que recebi o convite de Carol... Não me sai da cabeça. Engraçado como ainda sou apegada a costumes, frases e crendices. Fui a Festa do Bonfim e como TODO MUNDO, não só amarrei minhas fitinhas nas grades da igreja e fiz meus pedidos como também amarrei uma fitinha vermelha no pulso. Lá se vão meses e nada da fitinha cair, todo dia olho para ela e penso em tirar, no instante seguinte penso: Será? Ela tá toda esgarçada e entre nós, nada, mais ridículo do que esse pedaço desbotado da impressão do que um dia foi uma fita amarrada no pulso. Por que a gente é assim?
Convive com a globalização dos costumes, a banalização das virtudes, a idiotização dos conceitos e ainda assim consegue em situações de perigo ou de stress (mais comum por sinal) rezar o Pai Nosso, pedir um help a São Longuinho e em mês de São João fazer a Trezena de Santo Antônio.
Serão os resquícios deixados por vovó que ainda mantém viva uma réstia de sanidade em cada um de nós? Ou será a necessidade da sobrevivência que nos ajuda a conviver com coisas tão distintas?
Sinceramente não sei, viver as dualidades do mundo modernamente contemporâneo muitas vezes têm sido deveras cansativo, felizes eram as mulheres de outrora, contudo penso que faz parte do amadurecimento das idéias e principalmente dos sentimentos assumir que dentro de nós, ou pelo menos dentro de mim, vivem todas essas mulheres e como mulheres ora em conflito, ora em harmonia, ora em completo desequilíbrio partilha o caminho para ser feliz.
Quando será que a fitinha vai cair?

T.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Com licença poética


Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.


(Adélia Prado)