quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Eleições e Posições.

Escrever é um dos meus grandes prazeres, talvez se escrevesse mais me estressasse menos, andasse menos em duvida e com as idéias mais organizadas.
De um tempo para cá a palavra ORGANIZAÇÃO e PLANEJAMENTO ganharam um peso sem igual em minha vida, vire e mexe pergunto da organização ou do planejamento das coisas e das pessoas, talvez seja o curso que estou fazendo, ver coisas novas oxigenam meu cérebro, abrem meus olhos e me fazem rever a vida.
Às vezes penso ser fruto da idade, a gente vai envelhecendo e automaticamente vai se vendo “como nossos pais”, como já dizia Elis Regina. Tenho medo de cair do pé, igual fruto podre que muitos admiraram a beleza, mas não colhem a tempo. Será que com as idéias acontece isso? Será que as opiniões também entram em queda livre das árvores do mundo? Será que a inflexibilidade ou o orgulho pelas idéias, já atestadas agora ou ao longo dos dias, vão me fazer apodrecer no pé ou pior ainda me espatifar no chão?
Sim, ninguém tem a verdade absoluta, contudo o exercício da observação nos dá condições de prever os acontecimentos, o parar para ouvir, principalmente opiniões adversas, nos permite ter uma idéia real das diversas situações do dia a dia.
Hoje ouvi duas coisas, de pessoas diferentes e em situações completamente diferentes, que me fizeram refletir, vamos a elas:
Meu Pai: “uma rocha não quebra a primeira explosão e sim quando pequenas e continuas explosões atingem sua base, causando sua fragmentação”.
Amigos: “Luis Mott (GGB) não só disse apoiar Leo Krett como se colocou a disposição para assessorá-lo em seu mandato”.
Um diz sobre consequências e outro sobre reavaliação de posições. Confesso, sou péssima quando se trata de recuar, principalmente quando a previsão do tropeço já havia sido cantada para um futuro nem tão longínquo.
To assim, não confusa sobre que posição tomar e sim como fazer, para essa gama de informações não me sufocar, já que os resultados não dependem de "moi" e sim de terceiros, quartos e quintos, referem-se a movimentação de gentes pouco afeitas as transformações, mesmo tendo elas o discurso dos grandes Libertários. .
Cercear opiniões e monitorar pensamentos é algo muito próprio da ilusão de democracia que vivemos pois sim, se o IBOPE dois dias após as eleições municipais admitiu ter errado em informações fundamentais nas pesquisas eleitorais, que dirá mortais vestidos de institucionalidade.
É o fim. Fim do período de guerras, disputas e ânimos exaltados. Chegamos a era das tréguas, longe das bandeiras brancas hasteadas, dos compromissos a serem cumpridos. Essa trégua é o desistir dos guerreiros, é o triste apagar das luzes, não porque a derrota bateu a porta e sim porque não vale a pena se manter nas trincheiras.
Triste. Um luto sem cadáveres. Uma missa sem o padre. Filme sem mocinho, sem beijo na boca e THE END.
São os jogos do poder, sem a emoção da Guerra Fria, já que estamos ou somos do mesmo lado, fragmentados por interesses, veja bem, interesses e não disputas de idéias. Somos as cadeiras que ocupamos e os carimbos que levam nossas iniciais. Nos tornamos meros representantes de umbigos gordos e ouvidos moucos, retrato inverossímil da omissão em tons de rosa, que vem corroendo ternos sóbrios e bem cortados.
Somos o novo gigante do agreste a adentrar os confins do sertão, vigorosos, aptos e corajosos, prontos a cair aos primeiros tiros questionadores sobre os ideais que nos mostrem um norte, esse tão acalentado por quem tombou por um ideal. Se acalmem, quem vem de lá não sabe o que isso significa e quem aqui está não há de explicar.
Estamos em riste, alicerçados na areia prontos à ser levados pelo vento, não onde o sol brilhar mais forte e sim onde o vil metal reluzir com mais discrição e oportunidade.
Pena.
T.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

"Existem mil e tantas formas de você ser feliz.
Existem mil e tantos planos que se pode fazer.
Existe tanta coisa pra dizer que não se diz,
E existe só uma pessoa que é capaz de ser você.
Existem mil razões pra não sair do lugar.

Existem mil e tantas formas de você se entregar.
Existem mil e uma noites pra você se perder,
E existe só um jeito de não se arrepender.
Existem horas em que a gente tem que se perguntar,

- Será que estou onde meu coração queria estar.
Tenho um universo pra buscar,
Uma vida inteira pra encontrar,
Minha alma aventureira quer se achar. ”

Plínio Oliveira

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Hoje

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave
de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


Carlos Drummond de Andrade


sexta-feira, 20 de junho de 2008


Tantos são os acontecimentos que pouco é o tempo de me dedicar as letras, engraçado, apesar do prazer que isso me dá, são poucos os momentos que paro para escrever, mesmo cartas que curto escrever, curto mesmo. De acontecimentos, em acontecimentos, chegou o São João a grande febre do Noredeste, Salvador hoje, tá igual a Sampa em dia de feriado, vazia, lembra as cidades do velho oeste, toda poeira. O povo sumiu pros interiores da vida, Amargosa, Ipíau, Lençois, Eunapolis... Da-lhe licor de Jenipapo e forró. Só ouço gente falando:
_ Bom São João.
São João, julho tá aí, + um ano que to aqui. Uma vitória. Golpe de sorte. Perseverança....
A vida é um lugar engraçado, ela tem me levado a tantos lugares, a tantas gentes, a tantas escolhas... Não posso reclamar não, apesar dos tropeços, ganhei mais que perdi, amei mais que me desiludi, Vivi, Vivo, Viva ...
Os fatos vão de casamento a passagem de avião em promoção, passando pela consolidação do emprego e terminando num jantar em casa de amigos na véspera de São João.
Daqui da minha janela olho o céu, vejo verdes e prédios ao fundo, a depender dos hormônios, admiro mais ou menos. No final do dia ao cair da tarde, ele, o céu, fica naquele tom alaranjado que tinta alguma consegue imitar e cai a noite num breu brilhante e profundo que engole a gente de admiração e agradecimento.
Eu agradeço. A vida. A Deus. Ao universo. Sem velas ou mandigas. Simples assim, Obrigada.

"... olha pro ceu meu amor
veja como ele esta lindo.

olha praquele balão multicor
que no céu vai subindo"

T.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Quero começar sem ser piegas, contudo a frase... Foi com alegria que recebi o convite de Carol... Não me sai da cabeça. Engraçado como ainda sou apegada a costumes, frases e crendices. Fui a Festa do Bonfim e como TODO MUNDO, não só amarrei minhas fitinhas nas grades da igreja e fiz meus pedidos como também amarrei uma fitinha vermelha no pulso. Lá se vão meses e nada da fitinha cair, todo dia olho para ela e penso em tirar, no instante seguinte penso: Será? Ela tá toda esgarçada e entre nós, nada, mais ridículo do que esse pedaço desbotado da impressão do que um dia foi uma fita amarrada no pulso. Por que a gente é assim?
Convive com a globalização dos costumes, a banalização das virtudes, a idiotização dos conceitos e ainda assim consegue em situações de perigo ou de stress (mais comum por sinal) rezar o Pai Nosso, pedir um help a São Longuinho e em mês de São João fazer a Trezena de Santo Antônio.
Serão os resquícios deixados por vovó que ainda mantém viva uma réstia de sanidade em cada um de nós? Ou será a necessidade da sobrevivência que nos ajuda a conviver com coisas tão distintas?
Sinceramente não sei, viver as dualidades do mundo modernamente contemporâneo muitas vezes têm sido deveras cansativo, felizes eram as mulheres de outrora, contudo penso que faz parte do amadurecimento das idéias e principalmente dos sentimentos assumir que dentro de nós, ou pelo menos dentro de mim, vivem todas essas mulheres e como mulheres ora em conflito, ora em harmonia, ora em completo desequilíbrio partilha o caminho para ser feliz.
Quando será que a fitinha vai cair?

T.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Com licença poética


Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.


(Adélia Prado)