"Sem enfeite nenhum" é o título de uma crônica de Adélia Prado. Grande escritora, frequentemente citada por figuras como Drummond e Rubem Alves, Adélia fala sobre o ser mulher: cotidiano, fé, ludicidade, maternidade, amor... Nos seus relatos um equilibrio encantador entre o feminino e o feminista! É essa a idéia deste blog, escrito a pelo menos quatro mãos...
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Suado ele acorda. Espreguiça. Olha ao redor. Procura. Revira-se pela cama. Sorri preguiçoso. São 06h30min. Estamos atrasados. Todas as manhãs, ele abre um sorriso sem fronteiras, daqueles que dizem "estou pronto para o mundo". Jogo rápido, banho, chapéu, mochila e pé na estrada. O desejeum? Começou junto com o raiar do dia e vai acabar nas mãos carinhosas de quem o recebe todas as manhãs. Começou seu dia...
Um pingado e um pão na chapa, mais o silêncio daqueles que tem pressa. Combinação perfeita, à quem ainda escolhe o melhor percurso... Bolsa de mão e na boca o gosto do café de coador... Nem há tantas opções assim, contudo é bom poder elucubrar sobre as possibilidades... Decidido o caminho, a travessia é tranqüila, apesar da embarcação cheia, me deixo embalar...
Debaixo do vermelho do chapéu de abas largas, fresca, vou em busca de mim. A brisa brinca com a barra do vestido. As sandálias molhadas enrugam os pés e dá estranha sensação de frio. Já esquecida das mazelas, percalços e tristezas, paro e fito o horizonte. Tenho breve encontro comigo. Sorrio. Absorta em devaneios escuto gaivotas que parecem estar a cada minuto mais perto...
- Senhores passageiros não esqueçam seus pertences nas poltronas... Disse uma voz que nem de longe se parecia ao som das gaivotas.
Os pés secaram junto ao colorido da poesia a beira mar e deram lugar a tênis, saltos, sapatos engraxados e apressados, as charmosas abas vermelhas rapidamente se transformaram num simples guarda – chuva.
Cheguei. Acomodei as bolsas e o traseiro no computador. Tarefas a serem cumpridas. Pouca cor, quase nenhum sabor, todavia com música, para o dia não parecer tão insosso.
As horas passam...
A pressa matutina de outros, contamina, agora, meus passo. A mesma embarcação, agora sem vacilo ou cochilo. Olhos grudados no relógio. Chegar é o que move os passos.
Portão entreaberto, entro e logo encontro o mesmo sorriso "estou pronto para o mundo"... agora um pouco mais ancioso, contudo, irradiando a mesma paz do amanhecer. Como num passe de mágica esqueço a lida, fito os seus olhinhos brilhantes e felizes... Já é anoitinha.
Assim juntos, quase de mãos dadas, caminhamos para mais um encontro com o amanhecer...
T.
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