quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Amanheceu...

 


Pra alguns a segunda feira acordou com aquele gosto de caqui quando amarra na boca, amargo... 

Como tudo na vida as eleições tiveram seu fim. Não foi a coragem que venceu o medo ou o amor que venceu o ódio ou qualquer coisa que o valha. Foi o processo democrático que usa o voto como instrumento de deliberação maior, que levou às urnas 105.542.272 milhões de pessoas a escolherem seu governante.

No amargo inflamado do depois, quem deixou de ganhar ainda destilava o veneno, de quem se esqueceu, que numa disputa eleitoral só um ganha, assim não fosse viveríamos numa monarquia.
Já vi algumas eleições e do que me lembro, essa foi a pior de todas elas em todos os sentidos: morais, éticos, financeiros, programáticos...

Dos 105 milhões de votos, 51,6% deles foram dados a atual administração, contra 48,4% da oposição. Apertado. Sabe aquele gol que a gente tem a nítida impressão de que a trave andou? Então, foi essa bola que encaçapou não só a elite, mas toda uma parte da população que se permitiu ser convencida pela  mídia sem critério, a respeito de tudo aquilo que governo deixou de fazer.

Tivemos uma vitória histórica do ponto de vista da batalha em manter conquistas, direitos, crescimento econômico e principalmente a garantia de alguns em continuar tendo o básico: água, luz e trabalho. Levando em consideração a quantidade de gente boa e gente progressista que faleceu ou desencarnou ou morreu mesmo, passo a crer piamente no que diz a bíblia em Efésio 6:12Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.”

Nessa eleição a caixa de pandora das pessoas simplesmente abriu, algumas correram pra fechar e fingiram que nada aconteceu, enquanto outras permitiram que sua selva particular transbordasse, conclusão, foi a eleição da liberdade total e absoluta de expressão, de todas as expressões das mais toscas as mais politicamente corretas.

Foi a eleição de chamar homossexual de “viado”, negro de preto, pobre de burro, nordestinos ignorantes e ricos de “coxinha”. Nunca antes a Justiça Divina foi clamada com tanta ênfase, nunca se viu tanta manifestação em nome de Deus ou da sua pretensa vontade. Laços de amizade foram desfeitos e composições espúrias foram aceitas com uma normalidade pueril. Em nome de Zeus ou de Odin, como diz o ditado: “teve gente que matou e morreu”.

Vídeos, virais, charges, declarações, entrevistas, piadas, montagens, a internet bombou, se verdade ou não, definitivamente não vem ao caso, importante era curtir e compartilhar infinitamente todas as informações. A cobertura jornalística em alguns momentos ficou defasada, a quantidade de informações por piscadas nesses, mais ou menos, 120 dias de campanha foi absurda. O que era agora, antes de terminar a matéria já não era mais. Como filtrar tanta coisa?

Não sei. Sei o que vi. O que eu ouvi e como as pessoas reagiram e definitivamente, eu não gostei.

Fato é: vencemos sim, mas os compromissos assumidos, o tamanho da base aliada, a realidade da câmara e do senado, não nos permite achar que 51,6% é com a variação da pesquisa porque não é, números não mentem e a sua interpretação literal, sem os arroubos emocionais das primeiras horas é salutar para efetuar as mudanças de que almeja um país. Traduzindo, não temos margem de manobra para errar, se confundir ou permitir que a sanha de poder de quem permaneceu impune e consequentemente acha que essa vitória pode validar a permanência de qualquer comportamento corrupto ou corruptível.

No detalhe cabe a cada um de nós, usar os instrumentos da democracia a nosso favor e na legitimidade do voto de cada um, inclusive de quem saiu perdendo, fazendo sua parte. Denunciar se for preciso. Ir às ruas pra reivindicar o cumprimento das promessas. Voltar às ruas pra exibir as conquistas. Tudo isso com responsabilidade e respeito as individualidades, as diferenças, as igualdades e idiossincrasias tão inerentes a nos simples e ignorantes mortais.

Amanheceu. Não existe noite eterna. Ainda que alguns se consumam nesse sentimento. Amanheceu. O sol e a poeira de hoje já deixaram suas partículas no ontem. Não há muros que nos separem e nem paredes que nos afastem. Nesse solo em que se plantando tudo dá, o feijão de lá é uma variação do feijão de cá, o aipim daqui é a macacheira de acolá. Não  há sentido em separar. Sentido há na esperança de se vestir com esse novo raiar.

Makutb.

T.



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