Pra alguns a segunda feira acordou com
aquele gosto de caqui quando amarra na boca, amargo...
Como tudo na vida as eleições tiveram seu
fim. Não foi a coragem que venceu o medo ou o amor que venceu o ódio ou
qualquer coisa que o valha. Foi o processo democrático que usa o voto como
instrumento de deliberação maior, que levou às urnas 105.542.272 milhões de
pessoas a escolherem seu governante.
No amargo inflamado do depois, quem deixou
de ganhar ainda destilava o veneno, de quem se esqueceu, que numa disputa
eleitoral só um ganha, assim não fosse viveríamos numa monarquia.
Já vi algumas eleições e do que me lembro,
essa foi a pior de todas elas em todos os sentidos: morais, éticos,
financeiros, programáticos...
Dos 105 milhões de votos, 51,6% deles
foram dados a atual administração, contra 48,4% da oposição. Apertado. Sabe
aquele gol que a gente tem a nítida impressão de que a trave andou? Então, foi
essa bola que encaçapou não só a elite, mas toda uma parte da população que se
permitiu ser convencida pela mídia sem critério,
a respeito de tudo aquilo que governo deixou de fazer.
Tivemos uma vitória histórica do ponto de
vista da batalha em manter conquistas, direitos, crescimento econômico e
principalmente a garantia de alguns em continuar tendo o básico: água, luz e
trabalho. Levando em consideração a quantidade de gente boa e gente
progressista que faleceu ou desencarnou ou morreu mesmo, passo a crer piamente
no que diz a bíblia em Efésio 6:12 “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os
principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século,
contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.”
Nessa eleição a caixa de pandora das pessoas simplesmente abriu, algumas correram pra fechar e fingiram que nada aconteceu, enquanto outras
permitiram que sua selva particular transbordasse, conclusão, foi a eleição da
liberdade total e absoluta de expressão, de todas as expressões das mais toscas
as mais politicamente corretas.
Foi a eleição de chamar homossexual de “viado”, negro de preto, pobre de
burro, nordestinos ignorantes e ricos de “coxinha”. Nunca antes a Justiça
Divina foi clamada com tanta ênfase, nunca se viu tanta manifestação em nome de
Deus ou da sua pretensa vontade. Laços de amizade foram desfeitos e composições
espúrias foram aceitas com uma normalidade pueril. Em nome de Zeus ou de Odin,
como diz o ditado: “teve gente que matou e morreu”.
Vídeos,
virais, charges, declarações, entrevistas, piadas, montagens, a internet
bombou, se verdade ou não, definitivamente não vem ao caso, importante era
curtir e compartilhar infinitamente todas as informações. A cobertura jornalística
em alguns momentos ficou defasada, a quantidade de informações por piscadas
nesses, mais ou menos, 120 dias de campanha foi absurda. O que era agora, antes
de terminar a matéria já não era mais. Como filtrar tanta coisa?
Não
sei. Sei o que vi. O que eu ouvi e como as pessoas reagiram e definitivamente,
eu não gostei.
Fato é: vencemos sim, mas os compromissos assumidos, o
tamanho da base aliada, a realidade da câmara e do senado, não nos permite
achar que 51,6% é com a variação da pesquisa porque não é, números não mentem e
a sua interpretação literal, sem os arroubos emocionais das primeiras horas é
salutar para efetuar as mudanças de que almeja um país. Traduzindo, não temos
margem de manobra para errar, se confundir ou permitir que a sanha de poder de
quem permaneceu impune e consequentemente acha que essa vitória pode validar a permanência
de qualquer comportamento corrupto ou corruptível.
No detalhe cabe a cada um de nós, usar os instrumentos
da democracia a nosso favor e na legitimidade do voto de cada um, inclusive de
quem saiu perdendo, fazendo sua parte. Denunciar se for preciso. Ir às ruas pra
reivindicar o cumprimento das promessas. Voltar às ruas pra exibir as
conquistas. Tudo isso com responsabilidade e respeito as individualidades, as
diferenças, as igualdades e idiossincrasias tão inerentes a nos simples e
ignorantes mortais.
Amanheceu. Não existe noite eterna. Ainda que alguns
se consumam nesse sentimento. Amanheceu. O sol e a poeira de hoje já deixaram
suas partículas no ontem. Não há muros que nos separem e nem paredes que nos
afastem. Nesse solo em que se plantando tudo dá, o feijão de lá é uma variação do
feijão de cá, o aipim daqui é a macacheira de acolá. Não há sentido em separar. Sentido
há na esperança de se vestir com esse novo raiar.
Makutb.
T.
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