quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Ato 2

Deixei você
Tudo passou a ser pessoal. Coisas ínfimas eram uma catástrofe e as catástrofes o fim do mundo. Foi  acabando, definhando, rasgando nossas emoções e nosso vasto vocabulário diminuindo. Houveram conversas, tentativas, lagrimas e promessas. Perdemos o time. Houveram tardes de cerveja, risadas, alguns jantares e algumas vezes bêbados outras vezes empolgados por fatores externos ou apenas pelo tesão de um homem por uma mulher conhecemos todos os motéis da região.
Tentamos trabalhar juntos, tentamos ser parceiros, tentamos, mas algo deixou de dar liga, simples assim. Situações, palavras, emails, investidas e as brechas foram se abrindo no nosso coração e em nossas vidas.
Esses dias me falaram: Você deixou seu marido para outra! Respondi: Sim. Depois fiquei pensando na minha resposta, acredito que as pessoas precisam buscar a sua felicidade e comigo você não estava feliz, apesar ainda amá-lo com paixão não iria impor a você minha presença, escolhi deixar pra trás toda minha aposta de ser feliz, pra que você vivesse sua escolha e fosse feliz. Na minha balança de valores você era mais importante que eu, talvez pelo seu histórico e sua busca desenfreada de achar seu lugar de paz. Tem também a falência da minha vontade quando o assunto são as dificuldades que a vida nos impõe para crescermos.
 Você se encantou, ouso a dizer que você se apaixonou, por uma mulher, na acepção da palavra, e ela se perdeu na dureza de uma nova realidade completamente adversa. Como falamos lá entre as montanhas do caminho e ao som de Roberto Carlos, aprendi da pior forma sobre as dificuldades de crescer, sobre como é complicado ser responsável, como é triste ser sozinho para dar rumo à própria existência, como  éser aquela mulher que você conheceu sem a farta estrutura do estado, dos amigos e da família.
Vivi uma década em 12 meses, 365 dias, 52.5600 minutos e 31.622.400 segundos. Quando você me perguntou: agora que você percebeu que é difícil? Nem eu ouvi minha resposta, por que pude sentir o peso da solidão de ser eu sem máscaras ou perspectivas.
Num dia qualquer no meio da chuva, estava sob um céu cinza e carregado. Carregado de medos, expectativas, sobretudo, medo. A cada passo do caminho ao mesmo tempo em que o passado se distanciava o futuro estava como o céu, cinza e carregado. O sentido das coisas, já não podia ser mais sentido, um vazio sem fim ou forma, tomava conta de todos os espaços, imobilizava as pernas e fazia da voz um sussurro, longe e sem forças.
 Já dentro da casa, também vazia, jaziam folhas de jornal, uma coberta, algumas malas e um laptop, única ligação com a humanidade. Tomada de frio e fome, um cansaço envolveu o que restava das minhas forças e chorei. O som que saiu de dento de mim se assemelhava a dor de um animal abatido e naquele momento toda dor, transbordou. Mesmo certa das escolhas, estava despreparada física e emocionalmente para suas conseqüências. Com ossos doloridos e já sem estômago, me vi ajoelhada, num pranto nunca dantes sentido, a falar e caminhar desconsolada pelos aposentos, murmurando palavras sem sentido, frases entrecortadas, acontecimentos idos.  Era um momento em que ansiava por respostas, o corpo por alimento e a alma de conforto. Aquele que seria um passo pra caminhar em frente, se transformará em um mar de frustrações, angustias, magoas e desesperança. Cansada observei a falência do corpo e fui tomada por num sono pesado e profundo. Minha última lembrança foi ter ouvido alguém falar que Deus ouve nossas preces e orações, então pedi: Senhor socorro. Sem sonhos, permaneci imóvel, não sei por quanto tempo.
No meu intimo uma suave presença me embalava como nos tempos da infância, uma doce fragrância enchia o lugar, assim meu coração se deixou aconchegar aquecido por esse milagre dos sentidos. Abri o os olhos vagamente lembrei-me do ocorrido. Caminhei pela casa e senti um leve mal estar, talvez fosse fome, entretanto a sensação de tranqüilidade era palpável. Todo peso e angustia já não estavam mais ali ao alcance das mãos "Pois a sua ira só dura um instante, mas o seu favor dura a vida toda; o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria." E assim tem sido desde então.
Ouso a dizer que Deus me descobriu nesse instante ou o contrario como preferir.
Uma coisa é certa, no momento que deixei você, não me dei conta que deixava a mim mesma. Teria de me reinventar e só que também não me dei conta que isso seria muito dolorido.
“Você não sabe o quanto eu caminhei para chegar até aqui.” Cidade Negra
T.

Nenhum comentário:

Postar um comentário