quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Uma vida em três atos

Ato 1 De trás pra frente
É impossível se manter incólume de sensações, arrebatamentos e saudades, mais inverossímil ainda é não se perguntar ou elucubrar respostas, mas, o que é fato é certo.
Ao som de Roberto Carlos, ao fundo o aeroporto, cenário de tantas chegadas e partidas, seguida de montanhas e um cheiro de criança adormecida. Como se manter serena, sem chorar ou sentir dor?
O sol nasceu lindo e ao alcance das mãos. Pela janela grandes nuvens descortinando um céu limpo e em branco, como as folhas que se abriam diante dos meus olhos, assim que senti o avião tocar o chão, ainda assim foi com turbulência que a madrugada foi atravessada. Sem saber como aportar em um novo cais dentro do mesmo homem, entrar na carcaça desse mesmo barco tendo outro marinheiro no comando. Tempo encoberto para vistas acostumadas a esses mesmos mares, outrora tão fáceis de navegar. Disse Jesus a seus discípulos numa noite chuvosa “Homens de pouca fé” ( Lc 8:22 – 25).
Contrariando, inclusive a ANAC, o vôo adiantou 20 minutos, que transtorno, não fosse isso à hora combinada você estaria lá, de braços abertos e feliz, como vi poucas vezes a espera do nosso pequeno presente.
Foi ameno, mas confesso meu distanciamento em boa parte do tempo. Passado o idílio, sua vida nos chama a realidade. Trabalho, planos, projetos, uma busca frenética, que em quatro anos ainda não consegui descobrir pelo que é. Vi de perto onde esta sendo investido seu fôlego e forças. Entre a preocupação em segurar o frisson do com os jatos de água e observar a natural curiosidade de ver o pai mais de perto, observei o trabalho, as formas de interagir, os comportamentos e as possibilidades que podem surgir dali, por hora observar é minha tarefa, o mais o tempo vai fazê-lo ( Ec 3:1 e 17).
Coisa simples os gostos da vida, café com leite e pão com queijo na chapa, coisas que só o sudeste pode oferecer. Uma brecha e a curiosidade se fez presente, um coração de bem com vida e outro morno, a refletir, de comum entre eles, só as inevitáveis conseqüências. Seus olhos ainda me dizem algumas coisas e naquele inicio de manha manhã nada achei, nem tristeza, nem empolgação, um horizonte vazio. Preferi me abster e me bastar em mim e no delicioso pão a minha frente.
A vida segue seu curso, no seu caso ela tem pressa, mas planos, mais projetos, mais, mais, mais, para você mais é sempre mais. Senti o característico vento do seu vigor, a agilidade do seu pensamento e as idéias brotando uma a uma no solo fértil da sua vontade persistente de finalmente poder ser, ter, viver, respirar, apenas isso respirar sem pesos, sem duvidas, sem tantas coisas e com tantas coisas. Ainda há um aniversario, parte das carnes ficaram sob sua responsabilidade, como o carro a trocar e as questões pessoais para temperar esse banquete que é você.
Finalmente chegamos. Família. Uma injeção de carinho, amor e saudades. O semblante enternecido até dos mais brutos, prova que é um presente Davi para todos nós. Amigos que mesmo a distancia permanecem amigos, talvez por isso, sejam amigos.
O sol iluminava a casa e o domingo. Tudo tão simples, pessoas reunidas para um almoço de domingo seguido de um bolo de aniversario. Simples porque as crianças quando se encontram parece que foi ontem brincaram pela ultima vez, estão livres e riam a valer. Simples porque estar junto de quem à gente gosta e gosta da gente é simples. Tão simples que toda turbulência do meu interior se esvaiu e ficou só o cansaço da viagem. Simples assim, o amor cura as pessoas quando a gente se permite amar, aceitar e viver a complexidade e a delicia das dores de ser quem a gente realmente é. Sem cobranças e sem nada que não seja viver em Família. Foi importante viver esse momento, não só para exorcizar mais também para me confirmar à necessidade de manter as referencias que Davi precisa ter. Quer melhor?
Um burburinho e você me dizendo que amanhã estaria aqui. Falar o que diante de tanto distanciamento. Se conhecesse menos sua intrincada personalidade diria que sua aparente indiferença era real, mas hoje quando falei sobre Davi e Tio Dandão, percebi seu pesar, foi de propósito, confesso. Davi ali correndo, rindo, conversando, bebendo da família que tanto o ama, todo sujo, fazendo xixi no jardim e colocando a mão no peito de Carina sem a menor cerimônia. Deu-se o discreto falatório, mas o posicionamento de conformismo é opressor, o sentimento de vazio da tarde também. 
T.

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