Quando minha irmã se mudou de São Paulo
para Salvador, na confusão que é mudança, entre caixas e prazos, ela esqueceu
dentro do forno uma pizza. Já instalada em "terras de Jorge", um dia
ela se lembrou do acontecido, então vira e mexe a gente comentava, como
encontraríamos o tal pedaço de pizza quando a mudança chegasse. Passados cinco
ou seis meses não sei bem, finalmente a mudança deu o ar da graça. Lá estávamos
nós duas no meu portão, pra onde foram temporariamente suas coisas, a espera do
caminhão e da pizza claro. Desceu sofá, caixas de livros, geladeira, mais
livros e o fogão nada, outa caixa ela pulou logo, "la vem ele", que
nada, mais livros. De livro em livro, finalmente o fogão foi colocado no seu
cantinho da cozinha. Ficamos lá as duas, olhando o fogão com cara de
"ué", quando finalmente, minha irmã rasgou papel bolha e papelão e
abriu o forno. Lá estava ela, intacta, sem nenhum bolor, como se tivesse sido
colocada lá ontem mesmo. Foi um misto de surpresa e decepção. Surpresa por que
ela estava boa, até coradinha, imagine! Decepção, por que já tínhamos
imaginado todo tipo de elementos verdes saindo e pulando para fora do fogão
prontos para começar a tomar o Plante Terra.
Me lembrei dessa história, talvez eu quisesse ser aquela pizza. Fiquei
pensando como algumas coisas não se
transformam independente das intempéries por que passam.
Os últimos tempos
são recheados de coisas que me fizeram outra pessoa. Revi valores. Meu coração
ouviu outra canção. Meus olhos descobriram outras nuances nas mesmas paisagens,
interiormente me percebo outra pessoa, meu espelho também tem me mostrado
algumas diferenças.
Em momento de arrumação de malas, me pergunto como será, rever
lugares, pessoas e situações, assim tão diferente, lembrando que
não to falando de outra encarnação e sim de meses?
Não sei e isso me assusta. Confesso uma certa angustia e uma leve sensação
de “dejavú” me desagrada. Suspiro. Respiro.Oro.
Não há mais muito que eu possa fazer, as mudanças foram necessárias para
que eu sobrevivesse as intempéries, no mais, confiar no tempo e certamente nas
transformações que o mesmo deu a toda madeira que se dispõe a ser arte.
T.
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