quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A invasão

Quando minha irmã se mudou de São Paulo para Salvador, na confusão que é mudança, entre caixas e prazos, ela esqueceu dentro do forno uma pizza. Já instalada em "terras de Jorge", um dia ela se lembrou do acontecido, então vira e mexe a gente comentava, como encontraríamos o tal pedaço de pizza quando a mudança chegasse. Passados cinco ou seis meses não sei bem, finalmente a mudança deu o ar da graça. Lá estávamos nós duas no meu portão, pra onde foram temporariamente suas coisas, a espera do caminhão e da pizza claro. Desceu sofá, caixas de livros, geladeira, mais livros e o fogão nada, outa caixa ela pulou logo, "la vem ele", que nada, mais livros. De livro em livro, finalmente o fogão foi colocado no seu cantinho da cozinha. Ficamos lá as duas, olhando o fogão com cara de "ué", quando finalmente, minha irmã rasgou papel bolha e papelão e abriu o forno. Lá estava ela, intacta, sem nenhum bolor, como se tivesse sido colocada lá ontem mesmo. Foi um misto de surpresa e decepção. Surpresa por que ela estava boa, até coradinha, imagine!  Decepção, por que já tínhamos imaginado todo tipo de elementos verdes saindo e pulando para fora do fogão prontos para começar a tomar o Plante Terra.
Me lembrei dessa história, talvez eu quisesse ser aquela pizza. Fiquei pensando como algumas coisas não se transformam independente das intempéries por que passam.
Os últimos tempos são recheados de coisas que me fizeram outra pessoa. Revi valores. Meu coração ouviu outra canção. Meus olhos descobriram outras nuances nas mesmas paisagens, interiormente me percebo outra pessoa, meu espelho também tem me mostrado algumas diferenças.
Em momento de arrumação de malas, me pergunto como será, rever lugares, pessoas e situações, assim tão diferente, lembrando que não to falando de outra encarnação e sim de meses?
Não sei e isso me assusta. Confesso uma certa angustia e uma leve sensação de “dejavú” me desagrada. Suspiro. Respiro.Oro.
Não há mais muito que eu possa fazer, as mudanças foram necessárias para que eu sobrevivesse as intempéries, no mais, confiar no tempo e certamente nas transformações que o mesmo deu a toda madeira que se dispõe a ser arte.
T.

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