quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Ato 3

O perigo dos desejos
É ele pensei. Ouvi uma voz ao longe. Nunca havia visto você. Um homem alto, de terno, negro. Viril eu diria, pensei: “Vou levá-lo para minha cama”. Envergonhei - me. Esse tipo de pensamento não faz parte do meu repertório. Almoçamos, cumprimos agenda. A caminho do aeroporto um fio de saudade começou a ser tecido em meu coração.
Uma cólica me nocauteou, só me restava ir para casa. Deitada acompanhada de chá de camomila e buscopan atendi ao telefone e uma voz preocupada perguntava o que havia acontecido, o que eu tinha, se tinha ido ao hospital, eu me reservei o direito de perguntar: Quem é?
Pra minha surpresa era ele, dizendo que chegaria no outro dia para uma reunião, como aconteceria tantas vezes e que ele achava importante que eu o acompanhasse. Eu? Anotei o endereço, ao lado de casa, não me custaria nada e seria num restaurante que eu adoro a comida. A hora marcada ele chegou, com uma jaqueta do exercito e toda pressa que lhe é peculiar. Abraçou-me e ali dentro daquela jaqueta verde, fiquei arrebatada. Dia 15 de novembro de 2008.
Um sumiço de final de ano e um telefonema as 06h00min horas da manhã para dar inicio a uma historia apaixonada de um homem e uma mulher.
Difícil. Casado, três filhas, um casamento acabando. A liberdade batendo as portas e o convidativo sol de Salvador pronto a entregar-lhe as chaves. Como resistir aos encantos e aos perigos de uma paixão, assim de chofre caindo no seu colo?
Uma brisa cálida a envolver-lhe, um lugar de paz, o seu lugar de paz. Um coração jovem e apaixonado disposto a comprar essa fatura vencida e enfrentar o mundo para viver isso, que nem esse tal coração sabia o que era. Sabia que queria.
Foram telefonemas e emails trocados. As filhas e a família tudo há seu tempo. Cartão fidelidade da Tam, da Gol e da novata Webjet. A ex - mulher, a fuga da mudança e o abrigo carinhoso da tia querida. Assim fomos indo. Fizemos planos. Você arrumou uma casa. Comprei cada coisinha que minha imaturidade e o centro de Itaboraí permitiram, panelas, tapete de banheiro, lençóis e toalhas caríssimas, faltou o roupão, chorei na loja. Você ficaria lindo!
Finalmente você perguntou se eu queria casar com você. Fiquei estarrecida. Você queria casar comigo! Aquele homem viril que poderia carregar o mundo com os polegares queria casar comigo? Sim comigo, lembrei da minha mãe falando que homem nenhum casaria comigo, meu mau gênio e minha tão alardeada independência, assustaria qualquer um.
Foi num quarto de hotel. Estávamos deitados, ou melhor, eu estava deitada em cima de você. A pergunta foi simples: Quer casar comigo? Ainda perguntei: Tem certeza? Você me beijou. Daí pra frente foi uma loucura só. A casa dos meus pais, a intensificação dos cartões fidelidade, uma crescente de emoções e distâncias.
Essa maluquice toda foi comigo. Na verdade nunca soube como você se sentia em relação a tudo isso, apesar dos meus longos emails sobre tudo, pouco você me respondia e quando estávamos juntos, nada existia além das grandes janelas do apartamento do Canela.
Fim de ano. Listas de Presente. Ninguém contava com uma criança. Sim, estava grávida. Você vai ser pai. Como dantes, em tantas outras coisas, nunca soube o impacto disso em sua vida. Você parecia feliz. Me chamava de mãe mais linda da Bahia.
Eu queria morrer de desespero. Como grávida? Como assim? Passei um natal em uma tormenta interna. Suas mãos me seguraram e você me garantiu que ficaria ao meu lado fosse a decisão que eu tomasse. Ano novo passei de verde e amarelo, mesmo assim passei por outra crise e cai nos braços da minha família, onde carinhosamente fui reconduzida a sanidade e as responsabilidades que um aborto me trariam principalmente emocionalmente.
De volta a Salvador, passei os nove meses, super assistida. Nunca tive um enjôo ou desejo. Minha terapeuta disse que foi a forma que meu subconsciente encontrou de me proteger da falta que você fez e como você me fez falta. Fiz um barrigão, como diz lá na terrinha. Suas visitas sempre carinhosas e preocupadas.
A única vez que me senti preterida pelo seu silêncio, você me contou a história de Davi. Foi no dia que soubemos o sexo do bebê e escolhemos seu nome. Davi, escolhido pelo coração de Deus, onde você emocionado, me pediu para não julgá-lo pelo que vejo, mas tentar imaginar pelo que você passa e muitas vezes não consegue sentir. Choramos.
Finalmente as contrações, uns 10 dias antes do previsto. Fui para maternidade você não havia chegado. Davi nasceu as 23:00 horas, exatamente a hora que seu avião pousou. Falei para minha mãe, assim que ela me avisou da sua chegada, estava na mesa do centro cirúrgico: Davi adivinhou, esse viadinho queria chegar junto com o pai.
De azul e com seu melhor sorriso, você me beijou na testa e feliz pegou seu filho, o varão dos Monteiros no colo. No outro dia a certidão de nascimento plastificada e com direito a cópia para avó. O que se segue são as minhas cobranças, as minhas dores, toda falta que senti de você e 300 reais no armário. Era o inicio do fim, ainda assim, as malas foram arrumadas, a mudança providenciada e numa conversa a 2 dias antes de finalmente vir morar com você em São Gonçalo, nossa relação sofreu um abalo que não teve desculpas ou esparadrapos que pudessem curar a ferida.
Ainda teve a internação de Davi, meu Deus como sobrevivemos a tudo isso? Minha mãe falou certa vez que eu forcei a barra para casar com você depois que engravidei. Fiquei ofendida. Ela tinha razão. Descobri tarde demais.
Eu quis você desesperadamente sem ter a noção exata do que isso poderia significar sem a proteção das grandes janelas do apartamento do Canela.
Ainda assim, mesmo sem saber como foi esse vendaval chamado em sua vida, mesmo sabendo que nunca saberei o que significou esses três anos para você, vivemos uma grande história e como não poderia deixar de ser nosso final feliz se chama Davi.
T. 

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